É bastante habitual as pessoas questionarem se uma alimentação vegetariana é apropriada para os atletas profissionais, pois muitos acreditam que a ingestão dos produtos de origem animal é essencial para o desempenho desportivo. No entanto, a Direção-geral da Saúde publicou em 2015 um documento em que deixa claro que, além de reduzir o risco para o desenvolvimento de doenças crónicas, este tipo de padrão alimentar é apropriado para todas as pessoas, incluindo atletas (1) – desde que seja bem planeado e adequado em todos os nutrientes.
A mais recente revisão científica sobre o tema também concluiu que uma alimentação vegetariana não melhora nem prejudica a performance (2), logo, esta preocupação não deve existir. Aliás, em primeiro lugar, os autores sugerem que, em teoria, uma alimentação vegetariana poderá otimizar a performance dos atletas ao garantir melhores reservas de energia através do consumo adequado de hidratos de carbono – a principal fonte de energia dos desportistas. Em segundo lugar, este tipo de alimentação poderá garantir um maior aporte de antioxidantes na alimentação e, por isso, ajuda a combater o stress oxidativo gerado durante o exercício. Em terceiro lugar, uma alimentação vegetariana poderá melhorar o balanço ácido-base a nível muscular.
Por outro lado, a alimentação vegetariana, através do maior aporte de nutrientes provenientes dos frutos, vegetais, cereais integrais, algas e leguminosas, poderá aumentar a resistência imunitária de um(a) atleta e assim evitar com que este(a) falte aos treinos e competições por motivos de doença (3). Da mesma forma, um estudo recente indica que os(as) atletas vegetarianos(as) poderão ter uma vantagem a nível cardiorrespiratório relativamente aos(às) atletas que seguem uma alimentação convencional (4). Porém, são necessários mais estudos para confirmar estes benefícios.
Além disso, também sabemos que uma alimentação estritamente vegetariana (i.e. de base 100% vegetal) reduz os níveis de inflamação no corpo, o que poderá ser uma grande vantagem para os(as) atletas (5).
Por fim, face aos problemas do aquecimento global, os(as) desportistas estão a ser encorajados(as) a seguir uma alimentação que se aproxime cada vez mais de um padrão alimentar vegetariano e vegano, uma vez que esta é uma das soluções mais eficazes para combater este fenómeno climático (6).
NOTA: Para mais informações sobre o efeito da alimentação no desporto e saúde, os leitores podem consultar o livro “Bem Comer Melhor Jogar”, de Darchite Kantelal.
REFERÊNCIAS:
1. Gomes SC, João S, Pinho P, Borges C, Santos CT, Santos A, et al. Linhas de orientação para uma alimentação vegetariana saudável. 2015.
2. Craddock J, Probst Y, Peoples GE. Vegetarian and omnivorous nutrition – comparing physical performance. Int J Sport Nutr Exerc Metab [Internet]. 2015; Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26568522
3. Fuhrman J, Ferreri DM. Fueling the vegetarian (vegan) athlete. Current Sports Medicine Reports. 2010. p. 233–41.
4. Lynch H, Wharton C, Johnston C. Cardiorespiratory fitness and peak torque differences between vegetarian and omnivore endurance athletes: a cross-sectional study. Nutrients [Internet]. 2016 Nov 15 [cited 2017 May 16];8(11):726. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27854281
5. Sutliffe JT, Wilson LD, de Heer HD, Foster RL, Carnot MJ. C-reactive protein response to a vegan lifestyle intervention. Complement Ther Med [Internet]. 2015 Feb [cited 2016 Dec 31];23(1):32–7. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25637150
6. Meyer N, Reguant-Closa A. “Eat as if you could save the planet and win!” sustainability integration into nutrition for exercise and sport. Nutrients [Internet]. 2017 Apr 21 [cited 2017 Aug 21];9(4):412. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28430140