A nutrição tem um papel fundamental na fase de crescimento e por isso é muito importante os pais terem um conhecimento geral sobre os princípios de uma alimentação saudável, na qual se destaca o padrão alimentar vegetariano.
Crianças que fazem uma dieta vegetariana tendem a consumir mais frutas, vegetais, leguminosas e frutos gordos e a consumir menos doces e snacks pouco saudáveis, pelo que acabam por ingerir menos gorduras saturadas, podendo, em comparação com as crianças omnívoras, ter melhor saúde e um melhor aporte nutricional (1). Assim, as crianças vegetarianas podem apresentar um menor Índice de Massa Corporal (IMC), um menor perímetro de cintura e níveis de colesterol mais favoráveis que as crianças não-vegetarianas – o que reduz o risco de desenvolverem várias doenças crónicas no futuro (1,2). A altura e o peso das crianças vegetarianas são similares às das crianças não-vegetarianas, não tendo aquelas qualquer desvantagem (1). Por estas razões, em 2016, a Direção-Geral de Saúde publicou um documento sobre a alimentação vegetariana em idade escolar, no qual afirma que o padrão alimentar vegetariano é saudável e adequado para todas as fases da vida, incluindo o ciclo da vida pediátrica (1).
Por outro lado, se a alimentação vegetariana não for bem planeada e variada, tal como em qualquer outro padrão alimentar, esta poderá ser prejudicial para a saúde. Iremos abordar alguns nutrientes a ter em consideração de acordo com as recomendações da Direção-Geral de Saúde:
- Proteína: geralmente as crianças vegetarianas superam as recomendações diárias de proteína mas, dado que estão na fase de crescimento, e tendo em conta fatores como a composição de digestibilidade, é necessário um aporte de 3-10 g adicionais no planeamento da alimentação. Este pode ser facilmente atingido com a inclusão de leguminosas, cereais integrais, quinoa, frutos gordos, sementes, soja e derivados, etc.
- Ómega-3: a ingestão deste tipo de ácido gordo essencial é geralmente menor entre os vegetarianos, mas não tem de o ser – pode-se consumir algas ou óleo de microalgas ou sementes de chia, linhaça moída e nozes para atingir as recomendações diárias.
- Vitamina B12: os alimentos de origem vegetal não são uma fonte relevante deste nutriente e por isso, para assegurar os níveis adequados nas crianças, é necessário consumir produtos fortificados ou recorrer à suplementação.
- Ferro: as crianças vegetarianas têm um risco similar às crianças não-vegetarianas de desenvolver a anemia. No entanto, para melhorar a absorção de ferro presente nos alimentos de base vegetal (ex.: leguminosas, cereais integrais, vegetais de cor verde escura, sementes, frutos gordos, soja, etc.), é importante consumir conjuntamente um alimento rico em vitamina C.
- Cálcio: este é um nutriente essencial para o crescimento ósseo das crianças e por isso as recomendações nesta fase da vida são maiores que na fase adulta. Assim, alimentos como os hortícolas de cor verde escura, leguminosas e produtos fortificados, como as bebidas vegetais, devem estar sempre presentes na alimentação.
- Iodo: as crianças estritamente vegetarianas têm um menor consumo deste mineral. Para atingir as recomendações, é necessário consumir algas 3 a 4 vezes por semana ou utilizar sal iodado na comida.
O sucesso da implementação de uma alimentação vegetariana está na criatividade, variedade e planeamento das receitas. Este ano, entrou em vigor em Portugal a lei que obriga todas as cantinas públicas a terem uma opção estritamente vegetariana (especialmente se tal for requisitado), pelo que os encarregados de educação podem aproveitar esta oferta.
Referências:
1. Pinho, João P; Silva, Sandra C; Borges, Cátia; Santos, Cristina T; Santos, A; Guerra, António, Graça P. Alimentação vegetariana em idade escolar. 2016.
2. Melina V; Craig W; Levin S. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: vegetarian diets. Journal of the Academy of Nutrition & Dietetics. 2016.